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>> Colunistas > Lázaro Freire Assombrando as Trevas - Trabalho de Sombras X Culto ao Trevoso Publicado em: 14 de novembro de 2006, 19:32:20 - Lido 3726 vez(es) SOMBRA, na psicologia analítica, é um belo conceito relacionado ao inconsciente. Presente também em grupos ocultistas sérios, há várias analogias com aquilo que tentamos negar em nós. Sua compreensão também é fundamental para uma boa interpretação das mensagens presentes nos sonhos. Porém, mesmo como metáfora, não podemos confundir esta sombra (junguiana ou iniciática) com trevas (conscienciais). Sombra, no contexto Junguiano, é um conceito, um arquétipo do inconsciente. Não justifica as desculpas para diversos atos trevosos ou "cultos" de baixíssima sintonia, que muitos (pseudo) ocultistas dão. Na cultura pop, há um bom exemplo deste conceito: A metáfora do Smith, sombra junguiana do Neo do filme Matrix. Combatido em vão, ele se multiplica, ao mesmo tempo em que Neo não compreende a sinceridade da sombra que diz ser ele mesmo. Enquanto não compreendido e incorporado, é enfrentado de forma dolorosa, podendo até contaminar toda a representação interior. Na verdade, como ocorre com qualquer presença arquetípica, inerente ao inconsciente humano, o conceito está presente em várias outras obras. Em Peter Pan, ela se destaca da personalidade aparente, e precisa ser integrada, recosturada. E no clássico O Médico e o Monstro, a Sombra é a temática central. E o próprio mito de Diabo, Lúcifer ou Satanás dos cristãos, na verdade não passa da cristalização em um ser semi-angelical da própria sombra psíquica da sociedade medieval. Um ícone de tudo aquilo que já traziamos em nós, mas preferiamos, devido a aculturação, mantermos tão longe quanto isolável, embora tão perto quanto "controlável". Daí a necessidade de evangélicos falarem mais da sombra diabólica do que de Deus. É necessário manter a projeção próxima, para sentirmos que a combatemos, e que ela não faz parte de nós. Reconhecer a sombra interior não significa cultuar trevas, nem tampouco ir contra a evolução. Aliás, muito pelo contrário: A questão não é PASSAR A SERMOS obscuros, como se o EGO e o pouco que já conhecemos sobre nós mesmos fosse excluido de tudo o que se É; e sim reconhecer e trabalhar aquilo que JÁ SOMOS, que JÁ nos influencia, que vem de nós mesmos e não de obsessor. Aquilo que não queremos reconhecer, por acharmos que é feio ou mal, devido a algum valor social. Ninguem está sugerindo desenvolvermos um lado trevoso e anti- evolutivo para nossa sombra. Não estamos com isso falando em ter aversão à luminosidade, fazermos o "mal", nem abrirmos mão de valores éticos e sociais. E muito menos trocarmos referências espirituais integradoras pelo culto ao inconsciente e negado. Acender vela preta, ler bíblia satânica, cultuar a morte ou jogar Vampire não vai ajudar muito neste processo consciencial. O difícil e necessário é encararmos aquilo que JÁ temos e sequer sabemos que temos, e que não raro avolumou-se em nos nossos porões, que não queremos visitar. Reconhecer isso como parte de nós, e centrar, tem muito a ver com EVOLUIR. Por outro lado, a religiosidade estereotipada que cultua o "bonzinho" atrapalha: Negando, uma hora EXPLODE. E então não adianta culpar o "obsessor", dizer que "estavamos fora de nós mesmos", ou rezar para ver se passa. Nessa hora, se revelam o padre pedófilo, o yogue que tem crises destrutivas de mal humor, o palestrante espírita que fala manso com seus "diletos irmãos da seara de Jesus" mas é um terror em casa e temido pelos filhos. É o momento da pessoa aparentemente bem educada que desconta no primeiro comerciante que encontrar. E da namorada "tão meiga" e de família que incontrolavelmente ataca justamente quem ela dizia amar. A questão é que antes disso tudo se apresentar em neuroses, temos diversas pistas: Esta SOMBRA, enquanto crescendo, vai aparecer em SONHOS E PROJEÇÕES, nos "perseguindo" ou nos fazendo ter contato com o "mal" ou com o "sujo". Podem ser figuras atras de voce, monstros medievais, bichos feios que querem te pegar, dráculas, íncubus, súcubus, coisas gosmentas. Muitos, ao trabalhar a sombra, vão achar que passaram a noite fazendo projeção astral assistencialista no umbral. Mas este "obsessor" do seu sonho pode estar muito mais próximo, e o primeiro "umbral" pode ser o interior. Em todo caso, a própria projeção no umbral lá, ou mesmo o assédio espiritual adquirido aqui JÁ podem ser formas da vida lhe colocar em contato com aspectos sombrios, em contraponto. Ou seja, é muito verdade a velha expressão de "quanto mais rezo, mais assombração me aparece". Assistencialismo é ótimo e incentivamos, mas notem que quanto mais "bonzinho" o projetor, quanto mais negar conteúdos que JÁ traz em si, mais vai se projetar (mesmo) no umbral; pelo mesmo motivo que pessoas deprimidas tem um excesso de sonhos e "projeções" em cenários belíssimos, que compensem psiquicamente a balança por tudo que não estão vivendo aqui. Do mesmo modo, explicando pela ótica espiritualista, uma pessoa com sombra enorme atrairá os obsessores de verdade, em sintonia, os quais por sua vez a levarão a umbrais mais palpáveis. No fundo, tudo é um só. Até mesmo quando o obsessor é um(a) chefe ou um(a) ex materializadaos aqui. O Robert Johnson, popularizador junguiano autor da série HE / SHE / WE, possui também um ótimo livro sobre o conceito, chamado MAGIA INTERIOR. É uma leitura leve e rápida, porém capaz de mudar nossa auto-compreensão. Recomendo. Johnson fala em uma balança, que não deve pesar demais para um lado só, sob risco de... quebrar. E o que se quebra na psique, somos... nós. Neste sentido, lembro também de uma frase de Jesus dizendo: "Ai de vós, hipócritas! Por que lavam o exterior do copo, que por dentro está imundo?" Certamente o Mestre dos cristãos não estava recomendando sujarem o lado de dentro do tal copo, nem fechar os olhos para a sujeira que JÁ estava ali. Jesus nunca foi conivente com esta grande sombra psíquica que religiões criaram na hipocrisia do "ser bom". Ao contrário, ele era um grande questionador, sempre crítico às religiões de seu tempo, e sabia ser duro mesmo quando isso implicava em desafiar o esperado pela convenção social. Que os cristãos reflitam: Jesus era bom EM SI, como estado de consciência, mas jamais recomendaria aos seus seguidores essa pseudo-bondade estereotipada, luminosa - e hipócrita - que "Doutores da Lei implementaram em seu nome, em tantas dioceses e federações. E que, infelizmente, explica "sombriamente" as distorções que minam as instituições em seu nome - embora não precisem macular a própria mensagem evolutiva do Mestre Jesus. Em tempo, Jung considerava o cristianismo como simbolicamente adequado para a expressão do homem ocidental atual. Mas é bom lembrar de que falamos da simbologia original, e que o neo-junguiano Robert Johnson nos adverte que a pior coisa que fizeram com o cristianismo - simbólica e psiquicamente - foi convertê-lo em um culto pseudo luminoso, de mesas brancas ou paredes límpidas, onde não há mais espaço para as imagens sombrias de outrora, que ritualizavam a comunhão com "cristo" como um caminho espiritual que metaforizava o encontro e casamento alquímico que fazemos dentros de nós. Lázaro Freire http://colunas.voadores.com.br -- Lázaro Freire lazarofreire@voadores.com.br http://ippb.voadores.com.br -- Lázaro Freire lazarofreire@voadores.com.br
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