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>> Colunistas > Maísa Intelisano NOSSO LAR em linguagem de hoje - André Luiz e Chico Xavier - Capítulo 04 - O Médico Espiritual Publicado em: 02 de junho de 2007, 12:12:12 - Lido 3027 vez(es) ------------------------------------- NOSSO LAR em português de hoje em dia Pelo espírito André Luiz - Série Nosso Lar Psicografado por Chico Xavier (Francisco Cândido Xavier) Adaptado por Maisa Intelisano - http://colunas.voadores.com.br/maisa Este projeto visa uma maior popularização e compreensão da mensagem de André Luiz Divulgado pela lista voadores: http://lista.voadores.com.br ------------------------------------- 4 O MÉDICO ESPIRITUAL No dia seguinte, depois de descansar bastante, aproveitei a bênção radiante do Sol, como se fosse uma suave mensagem para o coração. Uma bela claridade atravessava a grande janela, enchendo o quarto de uma luz gostosa. Estava me sentindo outro. Novas energias preenchiam meu íntimo. Tinha a impressão de beber a alegria da vida em grandes goles. Na alma, apenas uma ponta de sombra - a saudade de casa, o apego à família que tinha ficado distante. Várias perguntas rodavam na minha cabeça, mas a sensação de alívio era tão grande que eu sossegava o espírito, longe de qualquer questionamento. Quis me levantar, aproveitar o espetáculo da natureza cheia de brisas e de luz, mas não consegui e concluí que, sem a ajuda energética do enfermeiro, era impossível para mim sair da cama. Ainda não tinha voltado a mim das seguidas surpresas, quando a porta se abriu e vi Clarêncio entrar acompanhado de um simpático desconhecido. Eles me cumprimetaram atenciosos, me desejando paz. Meu benfeitor do dia anterior perguntou do meu estado geral. O enfermeiro atendeu, dando informações. Sorridente, o velhinho amigo me apresentou o companheiro. Tratava-se, disse, do irmão Henrique de Luna, do Serviço de Assistência Médica da colônia espiritual. Vestido de branco, fisionomia irradiando uma simpatia enorme, Henrique me auscultou sem pressa, sorriu e explicou: - É uma pena que tenha vindo por suicídio. Enquanto Clarêncio continuava calmo, senti que um ataque de revolta fervia em meu íntimo. Suicídio? Lembrei das acusações do seres perversos das sombras. Apesar da grande gratidão que já começava a sentir, não consegui calar à acusação. - Acho que há um engano - afirmei, ofendido - meu retorno do mundo não foi por causa disso. Lutei mais de 40 dias, na Casa de Saúde, tentando vencer a morte. Fiz duas cirurgias graves, por causa de oclusão intestinal... - Sim - esclareceu o médico, demonstrando a mesma calma superior - mas a oclusão tinha causas profundas. Talvez você não tenha analisado bem. O organismo espiritual tem, em si mesmo, a história completa dos atos praticados no mundo. E inclinando-se atencioso, apontava determinados pontos do meu corpo: - Vejamos a região intestinal - exclamou. - A oclusão era derivada de focos de câncer e estes, por sua vez, eram derivados de suas leviandades em relação à sífilis. A doença talvez não se tornasse tão grave se o seu comportamento mental no mundo estivesse dentro de princípios de fraternidade e auto-controle. Entretanto, seu modo especial de conviver, muitas vezes exasperado e sombrio, captava vibrações destruidoras daqueles que o ouviam. Nunca imaginou que a cólera fosse fonte de forças negativas para nós mesmos? A falta de auto-controle, a falta de atenção no trato com os outros, aos quais muitas vezes você ofendeu sem pensar, conduziam-no, com frequência, a estados doentios e inferiores. Essa circunstância agravou muito seu estado físico. Depois de longa pausa, em que me examinava atentamente, continuou: - Já notou, meu amigo, que seu fígado foi maltratado por suas próprias atitudes; que os rins foram esquecidos, com grande descaso pelas dádivas divinas? - Os órgãos do corpo físico possuem reservas incalculáveis, de acordo com a determinações de Deus. Você, no entanto, ignorou excelentes oportunidades, desperdiçando patrimônios preciosos da vida física. A longa tarefa que foi confiada a você pelos Espíritos Superiores foi reduzida a meras tentativas de trabalho que não se concretizou. Todo o aparelho gástrico foi destruído com excessos de alimentação e bebidas alcoólicas, aparentemente sem importância. A sífilis consumiu energias essenciais. Como vê, o suicídio é incontestável. Pensei nos problemas da vida, refletindo nas oportunidades perdidas. Enquanto encarnado, conseguia usar várias máscaras, conforme as situações. Aliás, não poderia supor, em outros tempos, que me pediriam contas de acontecimentos simples, que costumava considerar como fatos sem maior importância. Até então, classificava os erros humanos de acordo com os preceitos da criminologia. Todo acontecimento insignificante, que não constasse dos códigos legais, entraria para a relação de coisas naturais. No entanto, agora me apresentavam outro sistema para verificar os erros cometidos. Não fui julgado por tribunais de tortura, nem por abismos infernais; no entanto, benfeitores sorridentes comentavam minhas fraquezas como quem cuida de uma criança desorientada que está longe dos pais. Aquele interesse espontâneo, no entanto, feria minha vaidade de homem. Se eu fosse torturado por demônios, de tridente nas mãos, talvez não me sentisse tão mal com a derrota. Entretanto, a enorme bondade de Clarêncio, o tom terno do médico, a calma do enfermeiro, penetravam fundo em meu espírito. Eu não tinha vontade de reagir; o que me doía era a vergonha. E chorei. Com o rosto entre as mãos, como menino mimado infeliz, comecei a soluçar com a dor que me parecia irremediável. Não tinha como discordar. Henrique de Luna falava com muita razão. Por fim, engolindo a vaidade, reconheci a extensão de minhas leviandades de outros tempos. A falsa noção de dignidade pessoal dava lugar à justiça. Para a minha visão espiritual só existia agora uma realidade que me torturava: eu realmente era um suicida, tinha perdido a oportunidade preciosa da encarnação, não passava de um náufrago que alguém recolhia por caridade. Foi então que o bondoso Clarêncio, sentando-se ao meu lado na cama, acariciou meu cabelos como um pai e falou comovido: - Ah, meu filho, não se lastime tanto. Eu o procurei, atendendo os pedidos dos que o amam, dos planos mais altos. Suas lágrimas mancham seus corações. Você não deseja ser grato, mantendo a tranquilidade ao examinar os próprios erros? Na verdade, sua situação é a de um suicida inconsciente; mas é necessário reconhecer que centenas de criaturas deixam o mundo diariamente, nas mesmas condições. Acalme-se, portanto. Aproveite as vantagens do arrependimento, guarde a bênção do remorso, ainda que tardio, sem esquecer que a aflição não resolve problemas. Confie em Deus e em nossa dedicação fraterna. Sossegue a alma perturbada, porque muitos de nós já andamos nos mesmos caminhos que você. -- Maísa Intelisano
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